4.3.13

Objetivo: não tê-lo

E por mais que ela estivesse disposta, parava pelo tempo tentando enxergar o brilho que não mais existia em seus olhos. Sua vida possuía delimitações comuns e isso a encantava ainda menos, de modo que tudo o que desenvolvia não passava de meras ilustrações de uma adolescente apaixonada num momento de desilusão. Não havia história, datas ou épocas que pudessem ser relembradas. Ela não gostava de relembrar, principalmente dos seus objetivos tão frustados de vida. No espelho costumava comparar seus traços ao de Macabéa (personagem da obra A Hora da Estrela, de Clarice Lispector), tão ralos e sem vida. O roteiro que compôs, ressaltando-se ainda que fora num dos períodos mais tumultuados de sua vida, fez com ela se tornasse mais nostálgica por sua infância e completamente pisoteada pelo mundo, especialmente, quando vira que não havia grandiosidade em todos; ela precisaria se destacar, mas sua pele não reluzia, nem sequer fazia qualquer referência próxima. Em tantos questionamentos, fizera-lhe um que a fez apagar tudo o que já havia escrito até então: Por que, então, se programar?
Ela precisava deixar o amargo da vida, abraçar alguém que estivesse tão disposto quanto, reconhecer que não dava mais para escrever acreditando que influenciaria da mesma forma que acontecera com ela. Depois, tudo virou uma questão de repetição, de corpo acostumado com o exercício e modificado pela prática. A convivência foi gerada inutilmente, o contato nunca existiu e tudo não passou de um esforço não considerado. Ela não queria morrer, mas viver, da maneira como a vida lhe fora apresentada, também não fazia questão. Dispunha-se em correr os riscos, em atuar mais com o velho e torto sorriso de sempre. Enquanto não bastasse, ela mentiria, porque preferia encarar uma realidade superficial do que realidade alguma. Depois de anos de pouca compreensão, o rosto simples e pouco maquiado foi abrindo fissuras num estado de ser, mitigado por sua própria desenvoltura. 

21.5.12

A passagem de um sem rumo


Ao delimitar meu tempo, tive silêncios mais abruptos e relevantes que pude imaginar, e como não nos damos sem reciprocidade (algo que sigo fielmente), não vejo porquê trazer à tona palavras que deveriam ser outras. Possivelmente, terminarei meus livros, e demais pretensões, sem mais sujeições ou riscos; anseio por uma nova bagagem de experiências e, no entanto, reflito em medo em não encontrar chão. Mesmo com o estômago embrulhado, sinto que está sendo uma necessidade, posteriormente esquecida ou amargurada. Apesar de não conseguir reconhecer meu futuro, tê-lo já é uma dificuldade, da qual não me escondo, mas com a qual ainda não sei lidar. Torna-se inesperado os momentos que imaginamos hoje, e os sabores que terão, assim espero, sejam puramente ocasionais. Por mais que a adaptação humana esteja pouco condicionada, a situação a que me permito está menos adiante que o programado. É a necessidade mais lógica e minha de estar em dois lugares simultaneamente, porque, por mais que queiramos algo totalmente novo, há sempre outro algo que te impede preferencialmente de se livrar do já vivido. E sim, quero abraçar o mundo e alcançar tudo o que eu puder, rememorando o que já fui, na intenção de aprimorar os conceitos já construídos. Eu quero ser de um papel relevante e ter vários destes em minha vida; quero ser introspectiva e cuidadosa; dar a meu tempo um momento objetivo.

27.1.12

Para uma nova página

Algumas teorias enfatizam a lembrança de que um dia foi certo e feliz. Basear-se nelas não deve ser a primeira intenção; não há delicadeza, fragilidade, ou mesmo anseio em esperar por uma circunstância que já passou. Talvez tenha entendido o que ficou em detrimento da saudade melancólica e temida. Não há muito que desculpar, as pessoas precisam mudar, algumas fazem isso sem nenhuma precaução, tanto que não parecem perceber o que mudou com elas. A maneira como os olhares são mencionados têm outro aspecto, tão distinto que às vezes não se vê sendo mencionado. Claramente, as personalidades que deixaram de estar presentes não costumam morrer, porque cada vez que essas novas explicitarem seu mau gosto, a lembrança será metafórica novamente, e usada sem receio.

Desde que os contos findaram, a necessidade de contá-los tornou-se ainda maior, principalmente, quando a história parece se repetir. É de imaginar que as relutâncias de uma criança estejam maduras e imersas, e que não passem hoje de uma vontade desinibida de mudar. Sem esperanças que mudem, o mesmo corte sempre serve quando o formato facial permite que combinem; no entanto, não há porquê vivenciar o que há muito foi reservado para esquecimento, nem discutir o porquê de estar lá. Talvez contar nunca faça sentido, e nem sempre tenhamos a disposição de memorizar alguns detalhes. Isso não nos torna alguém memorável, apenas reflete o que não conseguimos fazer.

6.11.11

Sim, o nosso!

Obrigada...

[...]

15.10.11

Nem sempre vira saudade...

Vendo os dias sendo tão incertos, percebo que o tempo não se doa como antes no qual éramos pares de danças mais longas. Mesmo que o afeto ainda tenha uma esperança não findada em meu esboço, talvez exista alguma menção do que podemos ser. Por ventura, perco-me em lembranças, geradas tantas vezes, que pareço não ter mudado de tempo... E as marcações que havia deixado como lembretes para um futuro foram rendidos e surripiados por intenções que jamais conseguiram ser explicadas. Não quero que minha calma te diga algo, e sim, que você repita meus atrevimentos, quase esquecidos. Não permito que tenha minha necessidade realçada e repetida por sua boca; eu a quero transposta sobre mim, encurtando minha melancolia, deliberando em meu deleite.

Contudo, comporta-se como se nada tivesse mudado... Como se suas mãos não tivessem deixado meu corpo, bem como sua inspiração, a minha. Eu não permito só olhadelas, eu já não o proíbo de me encontrar. Há algum tempo que venho tentando relembrar, sem excitações, o teu perfume, a aspereza das tuas palavras, a vulgaridade dos teus contos... No entanto, o apetite que me consome está prestes... E esteja! Desenhando tuas mãos em meu corpo nu, do mesmo modo que teus olhos imaginaram, com a mesma intensidade e intenções. Faríamos com que tudo o mais fosse apenas uma estória mal contada dos nossos dias inquietos, do mesmo modo como entendia seu sotaque libidinoso. É verdade que saímos sem pensar, sem notar que não estávamos sozinhos. Tão certo quanto não quero voltar, como não quero perder o gosto que acabou deixando em meus lábios, a fragrância por entre meus poros... Honestamente eu não tenho me portado diante das minúcias de nossas conversas, mas de algum modo tenho tentado fazer com que se lembre de que eu lhe perdi pela ideia que tenho de encontrá-lo novamente.

10.10.11

Pelos dias que já foram e que, por muito, ainda serão

A ideia básica de estar não faz muito sentido, talvez pelas mudanças repentinas, pelos afetos mal explanados, pelos amores mal demonstrados. É uma questão de tempo e de segurança... Aí você acaba comprometendo o significado do que ainda permanece. Eu precisava de uma chance pra não provar as evidências. Quero me assegurar de não deixar lembretes em data esquecidas, em um dia, que com toda certeza, terão suas horas feitas de lembranças. O que estava perdido afinal de contas, ainda está. Como saber se o que eu quero realmente está lá atrás, ou se preciso de um pouco mais tempo pra perceber o que deve cobrir minha real razão?
Seria como olhar a paisagem com cara dela, medir a esperança de uma vida findada... Estou disposta, ressentida pelos mesmos motivos que me culpo e que calo. (...) O esquecimento não é eficaz. É apenas sutil e falso, um fingimento inflado que condiciona o calor em que me suporto.

22.8.11

Irresoluto

Tenho medo do que mencionam, das minhas caras que andam fazendo, do jeito como me olham, das palavras que não saem. É saliência que pedia em sobressair, mas que aos poucos e por muito tentar foi esvaindo dos sorrisos. No dia seguinte, você senta, sentindo receio de si por estar sentindo, e as palavras não ditas que não se deixam ser absorvidas. Não tem muita relação com a nostalgia; tem direções para um lugar que ainda não se viu. Eis o medo. É a vontade de tentar, mas de estar atento com as percepções alheias; é ser alheio. De alguma maneira, você desacredita no momento, mesmo sentindo... Por um lado, tenho palavras para serem ditas, por outro, elas preferem estar assim. Acabo por confundir a cor dos olhos, que se atrapalham no abraço. Parece encalço, tempos desalinhados que correspondem com a mesma intensidade, à vontade.