4.3.13

Objetivo: não tê-lo

E por mais que ela estivesse disposta, parava pelo tempo tentando enxergar o brilho que não mais existia em seus olhos. Sua vida possuía delimitações comuns e isso a encantava ainda menos, de modo que tudo o que desenvolvia não passava de meras ilustrações de uma adolescente apaixonada num momento de desilusão. Não havia história, datas ou épocas que pudessem ser relembradas. Ela não gostava de relembrar, principalmente dos seus objetivos tão frustados de vida. No espelho costumava comparar seus traços ao de Macabéa (personagem da obra A Hora da Estrela, de Clarice Lispector), tão ralos e sem vida. O roteiro que compôs, ressaltando-se ainda que fora num dos períodos mais tumultuados de sua vida, fez com ela se tornasse mais nostálgica por sua infância e completamente pisoteada pelo mundo, especialmente, quando vira que não havia grandiosidade em todos; ela precisaria se destacar, mas sua pele não reluzia, nem sequer fazia qualquer referência próxima. Em tantos questionamentos, fizera-lhe um que a fez apagar tudo o que já havia escrito até então: Por que, então, se programar?
Ela precisava deixar o amargo da vida, abraçar alguém que estivesse tão disposto quanto, reconhecer que não dava mais para escrever acreditando que influenciaria da mesma forma que acontecera com ela. Depois, tudo virou uma questão de repetição, de corpo acostumado com o exercício e modificado pela prática. A convivência foi gerada inutilmente, o contato nunca existiu e tudo não passou de um esforço não considerado. Ela não queria morrer, mas viver, da maneira como a vida lhe fora apresentada, também não fazia questão. Dispunha-se em correr os riscos, em atuar mais com o velho e torto sorriso de sempre. Enquanto não bastasse, ela mentiria, porque preferia encarar uma realidade superficial do que realidade alguma. Depois de anos de pouca compreensão, o rosto simples e pouco maquiado foi abrindo fissuras num estado de ser, mitigado por sua própria desenvoltura.